Comunitários do Julião e Projeto Biotupé constroem sanitário que evita poluição
Num ajuri ou puxirum (mutirão) realizado no último final de semana, dias 23 e 24 de maio, o Projeto Biotupé e moradores da Comunidade do Julião, terminaram a construção de um sanitário que não polui o ambiente. Este sanitário é conhecido como “sanitário seco” ou “compostável”. Seco porque não é utilizado água no sistema. Compostável porque o sistema possibilita a compostagem das fezes, que após certo tempo pode ser utilizada como adubo. A comunidade do Julião está localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, às margens dos igarapés do Farias e Julião. Este último afluente da margem direita do Tarumã Mirim, que é um dos limites da área da RDS, que tem cerca de 12 mil hectares e é a maior unidade de conservação do município de Manaus. Nesta comunidade, assim como em outras comunidades rurais da Amazônia e, até mesmo em várias cidades, não há serviço de coleta e tratamento de esgoto, nem sistema de fornecimento e distribuição de água. Também não existe posto de saúde ou qualquer atendimento e assistência regular de saúde. Até março deste ano (2009) sequer havia fornecimento de energia elétrica. O Projeto Biotupé atua desde 2004 na comunidade, realizando atividades de pesquisa, educação não formal e extensão. Um dos focos do projeto é trabalhar para demonstar e consolidar práticas que possibilitem às populações que habitam esta área viverem dignamente, utilizando, de forma inteligente, o ambiente e a biodiversidade local e regional em seu benefício. Nesta linha de ação, o término da construção deste sanitário é emblemática, cheia de significados para os comunitários, estudantes e pesquisadores que participaram ativamente do processo. Esta atividade foi financiada pelo CNPq, através do projeto “Saberes Locais”, que busca inventariar, organizar e disseminar o conhecimento popular sobre plantas de uso medicinal e assim realizar o resgate e valorização deste saber local, através da promoção do uso dessas plantas pelos próprios comunitários. O sanitário seco ou compostável baseia-se numa tecnologia conhecida, infelizmente pouco utilizada. As fezes chegam à câmara de fermentação através de uma rampa, sem uso de água para empurrá-la. Também é jogado nesta câmara restos vegetais, como serragem, folhas secas e galhos finos triturados ou capim seco triturado. Todos com a função de ajudar no processo de fermentação. A parte de cima desta câmara de fermentação das fezes é formada por uma folha metálica, que pode ser de zinco, alumínio etc., que absorve a energia do sol e ajuda a aumentar a temperatura da câmara, facilitando assim a fermentação.Isto é fundamental, porque mata os microorganismos das fezes que podem causar doenças. Depois de terminado o processo de compostagem, as fezes agora transformadas em adubo, podem ser empregadas nas plantas dos quintais, nas hortas e nos mais diferentes cultivos na própria comunidade, evitando assim o gasto com o uso de adubo industrializado. Vale a pena ressaltar as vantagens de um sanitário seco ou compostável que são: não gasta água, evita a contaminação do solo e da água, usa pouco espaço, é barato, pode ser construído com materiais locais, elimina os agentes causadores de várias doenças, mais eficiente e higiênico que fossas, não produz mal cheiro, impede o acesso de vários animais às fezes, tem como produto final adubo de boa qualidade. O sanitário foi construído em regime de mutirão e o ponto de partida foi a realização de uma oficina de treinamento na comunidade, quando foi iniciada a construção deste sanitário. A construção utiliza prioritariamente material encontrado na própria comunidade, como barro, palha e madeira e, técnicas construtivas que eram utilizadas no passado e que ainda fazem parte das lembranças desses comunitários, mas que hoje já não são mais valorizadas, nem utilizadas. O sanitário fica localizado no terreno do Horto Medicinal Comunitário, que está sendo implantado também pelos próprios comunitários com a orientação técnica e organizacional do Projeto Biotupé. A implantação deste horto, seu crescimento e manutenção, está sendo feita utilizando princípios da Agroecologia e a construção do sanitário seco se insere apropriadamente nestas práticas, como um dos elementos principais e com forte função educativa, devido às suas características e princípios de funcionamento. Além disso é uma alternativa tecnológica totalmente apropriada para suprir as necessidades de dar uma destinação adequada aos dejetos humanos produzidos na comunidade, ou seja, evitar contaminação do solo, água, propagação de doenças e ainda dar uma destinação útil a algo que normalmente é um problema, as fezes humanas. Se você tem interesse em conhecer mais sobre o sanitário seco e quer aprender a construí-lo, nos procure (Edinaldo Nelson - fone: 3643-3291. E-mail: projetobiotupe@gmail.com ou nelson@inpa.gov.br) no campus II do INPA, na Av. André Araújo, 2936 - Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática ou também na UEA/ESA, (Profa. Veridianda Scudeller) na Av. Carvalho Leal, mestrado em Biotecnologia e Recursos Naturais (scudellerveridiana@hotmail.com).